Sarah acordou num sobressalto ao ouvir o despertador tocando
do outro lado do quarto. Ela dormira debruçada sobre o teclado, havia
quadradinhos marcados em sua bochecha e páginas e mais páginas de caracteres
desconexos na tela do seu computador.
Ajeitou os óculos e apagou o texto indesejado, levantou e se
espreguiçou, sentindo-se masoquista por gostar daquela dor muscular matinal.
Respirou fundo, foi até a sua cama sentando-se nela e dando
um tapinha no despertador para silenciá-lo. Manteve a mão ali, olhando para o
nada. Não era a primeira vez que sonhava com o passado. Sonhara várias vezes
com aquele dia em que estivera no labirinto procurando por seu irmãozinho,
tantos anos antes.
Abanou a cabeça, mandando aquele pensamento para longe.
Tinha um dia longo pela frente, uma agenda para seguir e um irmão para cuidar.
Depois de se arrumar, desceu para a cozinha e já no meio da
escada soube que seu irmão acordara mais cedo quando sentiu o cheiro de café
fresco.
— Caiu da cama? – ela
perguntou quando abriu a porta vai-vem da cozinha e viu um jovem louro usando
um avental debruçado sobre o balcão de costas para ela picando alguma coisa.
— Bom dia! – Ele
sorriu para ela e voltou a picar. Sarah andou pela cozinha observando a mesa
que não estava arrumada para o café da manhã, mas aparentemente, para um
piquenique. Havia tupperwares com
lanchinhos de patês, outra com bolo de chocolate cortado em quadrados, e mais
uma com uma torta salgada que a fez se perguntar a que horas ele havia
levantado. Nada daquilo parecia recém-saído do forno.
— EI! Devolve! – ele
parou de picar quando viu Sarah levar um dos lanchinhos à boca.
— Agora eu já comi. –
ela foi até o lado dele e se apoiou no balcão de mármore com o quadril. – Pra
que tudo isso?
— É aniversário da
Bèa. – A faca voltou à ativa. – Vamos fazer uma festinha pra ela no teatro.
— Claro, a Bèa... –
ela concordou como se aquilo fosse óbvio. – É aquela com cachinhos, né? – seu
irmão concordou em silêncio.
— E suponho que essas
festinhas sejam comuns entre os atores, né? – ela viu que o seu irmão estava
ficando vermelho e os tomates que ele picava ficavam cada vez menores.
— E acredito que a
idéia tenha sido sua. – ela tentava conter o riso, olhou discretamente para
ele. – É um jeito novo de fazer suco de tomate?
Ele parou de picar e ela riu.
— A que horas você
levantou? – perguntou remexendo nos lanches e mordendo outro (ganhando outra
careta do irmão)
— Fiz metade ontem à
noite. Você se enfiou no seu computador e eu vim pra cá.
— Já pensou em ser
cozinheiro em vez de ator? – ela sentou-se na bancada. – você cozinha bem.
— É – ele largou a
faca, amuado. – cozinho melhor do que atuo.
— Tobby, você sabe
que isso não é verdade! – ela puxou o rosto dele com a mão delicadamente e
sorriu de forma compreensiva. – Todo mundo tem seus dias ruins. Você só está um
pouco disperso, só isso. Por que não pede ajuda ao Lancelot?
Tobby baixou o olhar. – “Estou muito velho para brincar com
ursos de pelúcia.”
— Nunca se está velho
demais para os amigos, Tobby. Lancelot me ajudou por muito tempo... Como quando eu quase perdi você, pensou
ela, mas nada disse. Apenas puxou o irmão para abraçá-lo com carinho.
— Ta tudo bem aí?
— Sim. Só um
pouco nostálgica. – ela o soltou e desceu da bancada. Foi tomar o café que ele
havia feito e fez uma careta. – Ai, Tobby... – tossiu de leve. – Nunca mais faça café!
Que delicia!Foi como visitar uma velha conhecida...amei! =D
ResponderExcluir